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quarta-feira, 20 de março de 2013

O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon)


O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon)


O diretor Julian Schnabel - que é conhecido principalmente por seu trabalho como pintor neo-expressionista -,  ofereceu um ponto de vista extremanete peculiar à fantástica história de Jean-Dominique Bauby, famoso editor da revista Elle francesa.

Após sofrer um derrame cerebral e passar semanas em coma entre a vida e a morte, Bauby despertou completamente paralisado, em  estado catatônico - p
orém, interiormente, estava lúcido e consciente. Foi diagnosticada então a rara síndrome chamada de "Locked In", que em uma tradução literal significa "trancado dentro".

A única forma de comunicação de Bauby foi seu olho esquerdo (o direito acabou sendo costurado) e com ele ditou silenciosamente o livro "Le Scaphandre et le Papillon" para sua enfermeira. Um sucesso instantâneo.

O filme tem início no momento em que Bauby acorda de seu coma. Ele está confuso e ainda não sabe de sua imobilidade e incapacidade de comunicação. Filmado boa parte em primeira pessoa, Schnabel nos coloca literalmente na pele do personagem, provocando uma sensação real e claustrofóbica, conturbada, com ângulos recortados, iluminação estourada, borrões e lampejos de uma pessoa que se tornara apenas uma consciência, a voz de sua cabeça.


E a genialidade do diretor emerge deste caos. Schnabel revela seu protagonista aos poucos, saindo de trás dos olhos do mesmo mas nunca focando sua fisionomia. Quando finalmente Bauby se encara de frente - e compreende aquele estado em sua totalidade -, o público já conhece profundamente o personagem. O que vem a seguir então são momentos da vida do homem. Passagens que exemplificam de maneira simbólica o tipo de pessoa que ele era antes do acidente.

O roteiro faz questão de enfatizar tudo que Bauby perde com sua condição: a praia que não poderia ser aproveitada com os filhos; a beleza de lindas enfermeiras, destacada com sutileza - seus cabelos, tornozelos, bocas e olhos estão sempre em foco (a racionalização do personagem sobre essa "injustiça" é de um bom humor impagável). Podemos entender também toda a tristeza contida na impossibilidade da comunicação, que é bem retratada em uma conversa ao telefone entre Bauby e seu pai Papinou - intermediada pela fisioterapeuta Henriette, uma das beldades que o ajuda no tratamento.


Com uma montagem impecável, a edição final é apenas um complemento de sequências minuciosamente planejadas, que se destacam pela criatividade de  suas  soluções simples e práticas. A continuidade das cenas é coordenada, mas sua aparência é propositalmente discrepante, como a iluminação que por muitas vezes foge do local em destaque, parecendo pertencer a outro lugar. Constantemente vemos um ondulante reflexo d'água que nos lembra a umidade de um olho sempre aberto, que por vezes chora.

O roteiro de Ronald Harwood ("O Pianista") toma como base o livro homônimo, e molda um personagem inesquecível, que se aproxima do público - principalmente - por sua coragem. O bem sucedido jornalista, que tinha tudo ao alcance das mãos, de repente se vê como um fardo, preso no
 pesado traje de mergulho que simbolicamente veste no isolado fundo do mar. Mas sua mente não fica encarcerada pelo corpo, ela continua livre... como uma borboleta.

No final, Jean-Dominique Bauby 
enfrentou a solidão e escreveu seu último capítulo com dignidade. Logo após isso, se livrou do escafandro que o prendia. O que havia desmoronado se reergueu, assim como as grossas camadas de gelo que retrocedem como por milagre na poética cena final.


O Escafandro e a Borboleta/ Le Scaphandre et le Papillon: França, Estados Unidos/ 2008/ 112 min/ Direção: Julian Schnabel/ Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze, Anne Consigny, Max von Sydow

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